E que aquela manchete do periódico! Logo depois do cafezinho com um dos novos colegas de trabalho. Colega novo, trabalho novo, número novo... mas da velha avenida que tantas saudades deixara no coração daquele velho forasteiro urbano, acaipirado pelos ares do oeste paulista.
Mas diante dele, agora, reluzia a manchete dos R$ 70 milhões acumulados na Megasena. Esse jogo de números que os senhores, meus pacientes leitores, tão bem conhecem. Porém, não era o caso do nosso incauto apostador.
Excitado, nosso jogador compartilhou com seu grupo o sonho da fortuna fácil. Feitas as contas recolheram-se os dízimos. Até aí tudo tranqüilo e civilizado. Mas quantos jogos deveriam feitos com os R$ 100,00 arrecadados? Um de oito, dez de sete, cinco de sete e seis de seis, quatro de sete e trinta de seis, dois de sete e duzentos e cinqüenta de seis, dois milhões de seis... Entenderam???? Já imaginava! Vocês são inteligentes!
A escolha do “coitado” que iria até a casa lotérica, enfrentaria fila em um dos dois guichês abertos dos vinte e três existentes, tiraria da cartola números mágicos e “pintaria” artisticamente aquela meia centena de quadradinhos daqueles diversos “volantes” lotéricos recaiu sobre o nosso velho bancário repatriado.
Foi, viu e venceu! Pelo menos era o que acreditava. Jogos feitos, calhamaços de papéis carregados como troféus, seguiu até os elevadores do prédio onde trabalhava. Escalaria naquela engenhoca o oitavo andar do edifício. Elevador moderno, com televisãozinha e voz aveludada informando os andares, o sentido (sobe – desce) e outras utilidades convenientes aos viajantes do espaço.
Nave cheia. Sobe. Andares marcados na botoneira. Pessoas elegantes e bonitas compartilham o espaço. De repente o transportador vertical pára. Entre andares, abre a porta interna e a externa aparece lacrada como a de um cofre forte. Existe cofre fraco? Todos aparentam calma. Até que um voluntário aperta o botão de emergência, delicadamente uma vez, com decisão a segunda, firmemente a terceira, com energia a quarta, violentamente a quinta, com raiva a sexta até esmurrar o botão na décima vez.
A bonança parecia terminar. Nosso herói percebe que no elevador estão duas moças e sete homens. Sete homens e um destino. Nosso bravo personagem começa a suar. Um dos elegantes engravatados pede, aos berros, que todos mantenham a calma. Cabe dizer que naquele momento ninguém estava falando ou fazendo absolutamente nada.
Foi o estopim para acabar o sossego, o motoboy reclama do prédio metido a besta, uma das moças percebe que seu celular não dá sinal, a outra tenta nervosamente ligar seu notebook, o pessimista lembra que o amigo de seu pai já ficou oito horas preso num daqueles, enquanto o realista acredita que em vinte minutos todos estarão fora da “caixa metálica”. Já nosso apostador aperta os jogos da fortuna entre os dedos.
Afinal passados longos cinco minutos a porta se abre no térreo. A educação já era mercadoria rara. Todos querem passar pela porta ao mesmo tempo. Alguns vão embora do prédio, outros procuram as escadas, nosso homem, que se não bastasse tudo ainda é metido a escritor, pega outro elevador e sobe, sonhando com a fortuna, que naquela mesma noite viraria pó. Sobrou o elevador no dia seguinte, sobe!
Dinheiro pra que dinheiro???
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