Dias desses conheci uma piloto. Ou seria pilota? Encafifado com a questão recorri aos gramáticos. O professor Napoleão Mendes de Almeida não titubeou: sentenciou que é correto o emprego da expressão “pilota” como a forma feminina de piloto. Concordo, mestre!! Afinal se manejar com destreza volantes, guidões ou manches não é só pra marmanjos, tratemo-las como pilotas.
Ela resvalou em mim e eu perdi o prumo. Pois o rumo já tinha perdido havia muito tempo. A impressão que ficou era a de que eu já a conhecia. Quem sabe duma sala de aula de alguma pós-graduação da vida, da barraquinha de churros duma praça de Bauru ou quiçá dum voo de alguma dessas companhias aéreas tupiniquins.
Minha trajetória até aquele dia já fora sinuosa. Talvez a dela também tivesse sido. Porém, mais rodado, com certeza, já havia enfrentado mais turbulência, refeito mais de uma vez minha rota, realizado decolagens, pousos forçados e arremetidas. Pela vida. Essa nave que já viajei no comando, de passageiro, de carona, de clandestino e até no bagageiro. Contornos, curvas, retas e atalhos que me colocaram naquele exato instante diante daquela figura das arábias.
O que me chamou atenção foi o uniforme que usava. Devia ser uma combinação da indumentária da Barbie com a da Penélope Charmosa. Tudo salpicado de brilho, purpurina e com sapatos dourados. E a franjinha então, a mais geométrica que já conhecera. De topete e topetuda, passo firme, rebocava sua mala, que com certeza guardava souvenirs, bonecas, lápis de cor, caderninhos com flor e quem sabe até o travesseiro da Nasa.
Bonita, sagaz, sensível e... geniosa. Digna de um poema e de uma prosa. Romântica e sonhadora capaz de riscar no céu o desenho de um coração. Mas que quando atacada seria capaz de num rasante descarregar todo arsenal de um avião de caça. Se bem que ela, vaidosa, não dispensaria um vôo num zeppelin dourado, desde que esse tivesse um retrovisor que a permitisse checar se o seu rímel da sobrancelha esquerda estava alinhado com o da direita.
Ah... eu acho que me lembrei. Eu a conheço de outra encarnação!!! Dessas bem lá de trás, quando Papai do Céu deve ter escrito em sua cadernetinha de bolso que um dia, passasse o tempo que passasse, acontecesse o que acontecesse, “eu e a pilota voaríamos um do lado do outro”.
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