sábado, 26 de maio de 2012

AMIGO URSO

Todo fim de ano é assim. Tanto pra vocês quanto pra mim. Seja na Paulista ou na Chácara Klabin.  Confraternizações, discursos e promessas. E eu sempre nessas. Mas ontem fui a um evento diferente. Com cerveja de grife, bom vinho e boa gente. Mas essa composição revelou-se surpreendente. Vejamos.

 Fui de carona. Com colegas, no carro da minha chefa. Hábil pilota! Dirigia, falava ao celular, mandava mensagem e conversa com os passageiros ao mesmo tempo. Tudo isso e ainda linda, nossa miss catarinense, com todo respeito meu caro Sr. Costa, o consorte!!!

Fui no banco de trás  do carro, pois o Renato kis ir na frente. E ele foi segurando algo, que eu não sei bem o que era, mas estava no meio das pernas dele, e uma das mamães do evento, Miss Andressa, insistia em pedir que ele não balançasse. Sob pena dele se melecar. Preferi não fazer perguntas.

 Chegando à cobertura Costa Buss fomos recebidos pelo jovem anfitrião Theo. O reinventor do ipad recebeu festivamente aquela horda, que sua mãe chamava carinhosamente de seus “funcionários”. Integrava também nossa comitiva Madre Teresa de Turrá,  já praticamente em trabalho de parto.

 E aí não parou mais de chegar gente. Veio tanta gente, que até o Edson Costa, o dono casa, também veio. Tinha tanto povo que só grávidas tinham quatro. Mas o inesperado ainda estava por vir. E o inesperado não era o Zé Reinaldo Senior, com a sua camiseta número 8 às costas,  um verdadeiro Gerson!

  Já o Omine, obcecado, insistia em cobrar tarifa de todo mundo que se aproximasse da mesa de frios. Em cujo entorno circulávamos eu e o sr. Marco Antonio, de camiseta de surfista. Excepcionalmente, debatíamos e discordávamos de temas políticos-partidários, filosóficos, econômicos, futebolísticos e religiosos. Isso enquanto observávamos o Renato, Proença, ouvindo, pela décima quinta vez, o seu xará falar sobre a mais nova aquisição da CEMIG. Seria o Messi???

 Mais a noite avançou. E talvez algumas propriedades alucinógenas daquelas variedades de cervejas e vinhos desencadearam cenas indescritíveis. Mas vou tentar. Assim que foi iniciada o que era para ser uma singela e afetuosa troca de presentes uma série de furtos,  insultos, chantagens, coerções e outras baixarias começaram. Foram taças roubadas, cd’s, dvd’s, porta-retratos, garrafas de vinho e outras lembranças subtraídas reciprocamente e sem cerimônias, era ladrão roubando de ladrão. 

 O espetáculo só terminou quando o Renato, que durante a transe coletiva Kis e foi ao banheiro com seu presente, creio eu, debaixo do braço, aceitou ficar com o envelope premiado que dava direito a uma viagem de ida e volta para Indaiatuba, na vã clandestina locada pela Diretoria Comercial do Banco do Brasil. 

 Eu só sei dizer que acordei no dia seguinte abraçado ao meu vinho e as minhas taças no meu acampamento. Já o Zé Reinaldo, imagino eu, deve ter acordado nos braços da Adele, ao som de Cauby Peixoto!

ELES: OS POETAS

Vivem com desejo e com apego
Morrem de angústia ou desassossego
Com indiscrição ou indecência
Por lucidez ou demência

Talento e sensibilidade
Tristeza e perplexidade
Flertam com o amor
Vivem do prazer e da dor

Exagerados e dramáticos
Sedutores e carismáticos
Perdem-se pelo caminho
Afastam-se do ninho

Deliciam-se com o mel
Transformam-no em fel
Lambuzam-se com a vida
Sem juízo ou medida.

JANTAR COM AS ESTRELAS

O apartamento número 121 da Rua Democratas 543, encravado  no bucólico bairro da Saúde,  jamais será o mesmo. Ontem à noite, aquela acolhedora unidade do Edifício Advance Way foi “palco” de mais um dos já tradicionais jantares da Divisão Large Corporate Finance da Gerência de Operações Estruturadas I da Diretoria Comercial do Banco do Brasil S.A. Só!!   

Desde o anfitrião, o eclético historiador Pasi Lopes, até cada um dos demais comensais, passando pela dupla canina Milu e Lulu, ninguém saiu ileso do encontro. O destaque ficou por conta da hospitalidade e dos surpreendentes dotes culinários do nosso cientista político, Pasi Lopes, fã declarado do líder polonês originário das massas, o camarada Lech Walesa.

A caminho para o jantar, no Metrô, o primeiro incidente ocorreu. A neo-grávida, sra. Turra, e o idoso sr. Gallucci disputaram o acento especial do vagão do trem.  Agressões verbais partiram da gestante, que jura que ouviu o que ele não falou enquanto que ele jura que falou o que ela não ouviu. No final das contas, a jovem mamãe viajou sentadinha no banco reservado enquanto que o Sr. Gallucci chacolejou, de pé,  até a estação São Judas. Amém!

Já no chateau Pasi Lopes, de pronto, um fato chamou a atenção do intrépido representante da comunidade tatuiense, sr. Andrade Soares. O aparelho de televisão do anfitrião tinha uma característica especial. A mesma trilha sonora, de muito bom gosto, por sinal, acompanhava todos os programas, anúncios e inserções da programação televisiva. Pura tecnologia de ponta!

O sr. Gallucci, o tal que viajou de pé, não contente com um enfrentamento com a sra. Turra, também teve problemas com a cadela Lulu. Essa última, suspeita-se inspirada na miss Juiz de Fora, srta. Patrícia Santiago, estabeleceu de imediato uma relação conflituosa e ruidosa com o mais “experiente” da trupê. Osso duro de roer! Ambos!

 Algumas garrafas de vinhos já entornadas e alguns tira-gostos devorados pelos convidados,  eis que o nosso destemido e convicto administrador de empresas, sr. Marcatto, adentra, sem anúncio, cerimônia e apresentação, o aconchegante apartamento do provisoriamente solteiro banqueteiro. Naquela altura o grupo era composto por 60% de homens e 30% de mulheres. O resto? Perguntem pro também estatístico, sr. Marcatto.

E por aí a noite avançou. Com a crise alérgica do sr. Andrade Soares, o telefonema preocupado da avó do historiador, outras “estranhas” chamadas telefônicas  recebidas pelo sr. Gallucci, até o “tratamento de choque” aplicado pelo jovem adestrador Theo  na dupla Lulu e Milu. Já dasLú e Andressa só comentários elogiosos. O sr. Sanches, por diversas vezes Kis falar mas o Sr. Andrade Gutierrez Soares não deixou. Já o Engenheiro de Produção Mecânica, Dr. Sérgio, foi sabatinado por representantes do CREA, presentes no local.

E depois do salmão e do risoto de queijo “brie”, os convidados satisfeitos com a qualidade dos pratos retiraram-se cada um para o seu lar. O sr. Gallucci, que além de bancário é metido a escritor, para não correr o risco de novos confrontos no Metrô, foi de São Judas até o Paraíso, a pé e com fé!!!!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

CRÔNICA DE UM EX-FUTURO MILIONÁRIO

O nosso homem mal havia digerido o almoço e aquela manchete já revirara seu combalido estômago. Paulistano da gema voltara recentemente a trabalhar na  Paulista e fazer suas refeições no “Quartander”, aconchegante restaurante localizado no prédio do Banco do Brasil na esquina da Augusta com a Paulista, que só não virou letra do Caetano porque o poeta baiano nunca almoçou por lá. 

E que aquela manchete do periódico! Logo depois do cafezinho com um dos novos colegas de trabalho. Colega novo, trabalho novo, número novo... mas da velha avenida que tantas saudades deixara no coração daquele velho forasteiro urbano, acaipirado pelos ares do oeste paulista.

Mas diante dele, agora, reluzia a manchete dos R$ 70 milhões acumulados na Megasena. Esse jogo de números que os senhores, meus pacientes leitores, tão bem conhecem. Porém, não era o caso do nosso incauto apostador.

Excitado, nosso jogador compartilhou com seu grupo o sonho da fortuna fácil. Feitas as contas recolheram-se os dízimos. Até aí tudo tranqüilo e civilizado. Mas quantos jogos deveriam feitos com os R$ 100,00 arrecadados? Um de oito, dez de sete, cinco de sete e seis de seis, quatro de sete e trinta de seis, dois de sete e duzentos e cinqüenta de seis, dois milhões de seis... Entenderam???? Já imaginava! Vocês são inteligentes!

A escolha do “coitado” que iria até a casa lotérica, enfrentaria fila em um dos dois guichês abertos dos vinte e três existentes, tiraria da cartola números mágicos e “pintaria” artisticamente aquela meia centena de quadradinhos daqueles diversos “volantes” lotéricos recaiu sobre o nosso velho bancário repatriado. 

Foi, viu e venceu! Pelo menos era o que acreditava. Jogos feitos, calhamaços de papéis carregados como troféus, seguiu até os elevadores do prédio onde trabalhava. Escalaria naquela engenhoca o oitavo andar do edifício. Elevador moderno, com televisãozinha e voz aveludada  informando os andares, o sentido (sobe – desce) e outras utilidades convenientes aos viajantes do espaço.

 Nave cheia. Sobe. Andares marcados na botoneira. Pessoas elegantes e bonitas compartilham  o espaço. De repente o transportador vertical pára. Entre andares, abre a porta interna e a externa aparece lacrada como a de um cofre forte. Existe cofre fraco? Todos aparentam calma. Até que um voluntário aperta o botão de emergência, delicadamente uma vez, com decisão a segunda, firmemente a terceira, com energia a quarta, violentamente a quinta, com raiva a sexta até esmurrar o botão na décima vez.

 A bonança parecia terminar. Nosso herói percebe que no elevador estão duas moças e sete homens. Sete homens e um destino. Nosso bravo personagem começa a suar. Um dos elegantes engravatados pede, aos berros, que todos mantenham a calma. Cabe dizer que naquele momento ninguém estava falando ou fazendo absolutamente nada.  

Foi o estopim para acabar o sossego, o motoboy reclama do prédio metido a besta, uma das moças percebe que seu celular não dá sinal, a outra tenta nervosamente ligar seu notebook, o pessimista lembra que o amigo de seu pai já ficou oito horas preso num daqueles, enquanto o realista acredita que em vinte minutos todos estarão fora da “caixa metálica”. Já nosso apostador aperta os jogos da fortuna entre os dedos.  

Afinal passados longos cinco minutos a porta se abre no térreo. A educação já era mercadoria rara. Todos querem passar pela porta ao mesmo tempo. Alguns vão embora do prédio, outros procuram as escadas, nosso homem, que se não bastasse tudo ainda é metido a escritor, pega outro elevador e sobe, sonhando com a fortuna, que naquela mesma noite  viraria pó. Sobrou o elevador no dia seguinte, sobe!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

CARÍCIA INVISÍVEL

Quero com ela alcançar teu rosto
Deixar em tua boca meu gosto
Com  delicadeza mas com malícia
Suave assim como uma carícia

Dizer-lhe algo simples mas especial
Que seja do dia-dia mas não banal
Que toque sua mão e... seu coração 
Faça-a rir ou chorar de emoção

Palavras e frases num arranjo inventivo
Que troquem o comum pelo criativo
Que traga fantasia pro seu dia
Eis a razão de ser da minha poesia...

ALEXANDRE E CAROLINA

Aprendi com ela e com seu jeito 
que sem alarde se faz a ação
com atitude, doçura e respeito
se age com a alma e o coração

Aprendi com ele mesmo sem fala
que o seu silencio é eloqüente
quando a palavra se cala
mas o gesto se faz presente

Corre menino corre menina
e a vida sempre me ensina
com esse vem e vai
a me reinventar como pai...



sábado, 19 de maio de 2012

PENSAR NA VIDA

Pensar na vida só tem valia
E ter saudades só faz sentido
Se isso resgatar do tempo ido
A emoção que colore o dia

Perder o sono ou sonhar desperto
Trocar a razão pela fantasia
Crer que a vida tenha magia
Só se for pra ter amor por perto

Por crença, ideal e filosofia
Só vale a pena ter melancolia
Se trouxer ao peito a nostalgia
Da qual floresça a poesia

A PIZZA DE PLÁSTICO

Na semana passada fui ao shopping center. Se eu morasse em Viçosa (MG), meus pacientes leitores não teriam o porquê perguntar ao qual shopping eu fui. Pois lá, na viçosa cidade da zona da mata mineira só existe um. O “charmoso” Mundial Shopping Center. Defronte a rodoviária da cidade. De onde partem os ônibus para São Paulo, que chacooolejam 11 horas para chegarem a maior cidade da América Latina. Daria para ir até Paris! 

Mas não eu não moro em Viçosa. Resido na cidade de São Paulo. Então, é pertinente que meus resistentes leitores queiram saber qual shopping center eu visitei. É verdade, em Sampa tem vários, não sei dizer nem quantos existem atualmente. Porque com certeza enquanto escrevo essas linhas mas algum deve estar sendo inaugurado em algum ponto da cidade. 

Mas não direi a qual fui. Não caberia fazer propaganda gratuita neste espaço. Até porquê fui ao shopping para ir ao cinema. Entenderam? Para quem não entendeu cabe uma explicação. É porque paulista adora “botar” tudo dentro do shopping. Questão de idolatria. No shopping tem cinema, bar, restaurante, boliche, petshop, teatro, academia, supermercado, parque infantil, berçário e até lojas!

Também não é sobre o filme que assisti que pretendo falar. É sobre uma máquina que lá encontrei. Não no Itororó e sim no shopping. Ela estava alinhada logo após as de “auto-atendimento” de alguns bancos. 
Era um pouco maior que suas parentes do sistema financeiro. Era vermelha, tinha vários botões coloridos, um conjunto de “leds” que piscavam incessantemente, uma espécie de buraco retangular onde lia-se “output”. Na lateral da máquina havia uma espécie de “entrada”, que logo abaixo apresentava uma tela digital com as seguintes opções: pagamento em cheque, dinheiro ou cartão. Logo abaixo um outro botão com a seguinte inscrição: “nota fiscal paulista?” No topo da máquina lia-se “pizza instantânea”.

Resolvi arriscar. No menu eletrônico escolhi o sabor, a “grossura” da massa, o tipo de borda e a marca do molho de tomate. Surpreso e curioso aguardei por alguns instantes. Depois de cerca de dois minutos e meio surge no buraco de “output” uma caixa de papelão com o desenho do Ronald Macdonald´s. Era minha pizza. Procurei uma mesa na praça de alimentação, abri a embalagem que na parte interna tinha um garfo e uma faca, ambos de plástico colados por numa etiqueta amarela e comi a iguaria. Com a mesma empolgação de quem transa com a prostituta da esquina pensando na Angelina Jolie.   

Pensativo, caminhei até o estacionamento. Lembrei daquela mesa com uma impecável tolha vermelha, com cadeiras altas, guardanapo de pano, talheres de prata e um cardápio de couro, no qual eu podia escolher a pizza que o simpático e solícito  garçom traria para o meu deleite. Mas do que isso me veio à memória a moça bonita com quem eu dividia a mesa, conversava e trocava olhares apaixonados, enquanto degustávamos nossa massa. Será isso coisa do passado? Do tempo que minha cara-metade me chamava de linducho!

GEMINIANO

Bancário, gosto do que faço
Trabalho com régua e compasso
Faço, no improviso e sob medida
a operação “solo” ou divida

Sou criativo, eclético e inteligente
esse último, pelo menos o suficiente
pra, imodesto, aguentar o tranco
de trabalhar lá no banco

Mas... só que de quando em vez
por necessidade, subversão ou insensatez
misturo objetividade e racionalismo
com devaneios e lirismo

Assim como também pra me proteger
só deixo o público em geral ver
o lado fanfarrão, irreverente e provocador
de um romântico e apaixonado trovador...

domingo, 13 de maio de 2012

HOMENAGEM

Dia das Mães. Data nobre do calendário anual do comércio. Talvez, em termos de movimento ($$) equiparado ao Natal. Superando o dia dos pais (coitados!), das crianças e dos namorados. Oportunidade de vender celulares, bolsas, sapatos, meias,  jóias e perfumes.  E desovar micro-ondas, panelas, televisões, geladeiras e fogões...   estes últimos para aquecer a economia. 

Época de lojas lotadas e de novas e velhas campanhas publicitárias. Domingo de trânsito nas ruas e de filas em restaurantes. De churrascaria a cantina, de missa das mães, com padre e batina. De resgatar do fundo do guarda-roupa os vestidos maternos. E haja naftalina! 

Mas superados os aspectos macro e microeconômicos, viários, gastronômicos e religiosos  avancemos para outras questões satélites, tais como os chavões da aludida data. O mais festejado é o tal de “Ser mãe é padecer no paraíso”. À distância, como neto, filho, pai, marido e companheiro, acho que seria mais apropriado dizer “é gozar no inferno”.  

Mas não quero chocá-las com minha irreverência. Até porquê espírito crítico e bom-humor  são bem vindos, mas brincadeira tem limite, menino! Certo?  E...  na verdade, ô mães, só quero reverenciá-las com carinho. Vocês, seres humanos especiais, que se recriam  para reproduzirem o milagre da vida. 

Fugir do viés de “negócio de ocasião” com o qual a publicidade trata as mães.  Essas mulheres que têm o “topete” de  trazer ao mundo uma nova vida. E depois se viram, desviram e reviram, muitas vezes sozinhas, para fazerem o que acreditam ser o melhor para criarem  seu rebento. E haja talento!

E as mudanças pelo caminho. A começar pelo corpo, que aumenta sem pedir licença. E a cabeça? Que fica um trevo. A alegria,  satisfação,  orgulho e  realização convivem, não pacificamente, com o medo, a insegurança e a ansiedade. E as dores do parto? Dizem que a é cólica renal das mulheres. Então dói!!!  É... preciso ser fêmea, para segurar essa barra!

Mas ser mãe é estar mais perto de Deus. No tête-à-tête. Estabelecer com Ele um silencioso pacto de cumplicidade, no qual a vocês, mulheres-mães ou mães-mulheres, com todas as limitações e obstáculos, cabe dar curso a essa obra da criação. Ave mães! 

Nota de rodapé: 
(Marquei algumas mães aqui no facebook, mas quero dirigir esse texto a todas que conheço, com exceção a  uma delas, para a qual  eu conto com o provedor Divino para que esse rabisco chegue ao seu destino).  

sábado, 12 de maio de 2012

OCUPAÇÃO OU GANHA PÃO

Profissão é um troço sério
Exige talento, gosto e critério
Alguns sonham e pensam no prazer
Outros têm pesadelos só pra sobreviver

Alguns buscam a vocação

Pra escolherem a profissão
Outros trabalham como camelos
Terminam barrigudos e sem cabelos

Há aqueles que fazem avaliação vocacional

Com todo rito, pompa, luxo e cerimonial
Já outros são escolhidos pelo emprego
Comem marmita ou churrasco grego

Um amigo meu, mesmo sem grana e patrocínio, sonhava com medicina

Hoje “prático” de farmácia aplica, na veia, injeção de penicilina
Eu, como outros, desde cedo no  batente pra ganhar dinheiro
De bancário minha filha transformou em blogueiro...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CAMINHO

O caminho é o endereço
Não importa o fim nem o começo
Apenas o avanço e o movimento
De coração e de pensamento

Correr, seguir em frente e respirar
Livre  mente, deixar o corpo  transpirar
Vento no rosto, talvez um gosto
Que se era desgosto agora não é mais

Ganhar o mundo e alargar o espaço
Na veia correr o sangue e acelerar o passo
Vida passageira e  natureza  de paisagem
E assim, a flor da pele, seguir viagem

Mirar distante mas ver que ao lado
Há outro ser igualmente alado
Que  também segue na trilha
E tal qual você não é uma ilha...

PAZ E AMOR

Quando amanhece me agito
No peito sufocado um grito
Mas à noite me sinto mais calmo
Como se avançasse um palmo

Desejo ouvir o meu coração
Encontrar em meu ser a razão
Seja no ócio de um simples lazer
Ou na realização de um grande prazer

Também quero paz e sossego
Amor sem posse mas com apego
Companheirismo e cuidado sem sufoco
Compartilhar de tudo um pouco.

FUSO HORÁRIO

Ando um pouco apreensivo em relação a essas voltas que a Terra, irriquieta e inconstante, insiste em dar em torno do Sol. Atualmente eu e você não partilhamos do mesmo fuso horário. E fico conjecturando, ainda que sem perder o sono, se o fato de estar mais próximo do meridiano de Greenwich me é benéfico ou não. Desconfio que deva estar envelhecendo antes que você, o que convenhamos não me deixa numa posição muito confortável. 

Talvez devesse me mudar para o Alaska. Mas suspeito que a minha manta, arrematada em uma promoção do Extra, não seja suficiente para me aquecer por lá. E olhe que sempre tive uma atração especial pelo Alaska. Ah... o Alaska, desde de a minha primeira partida de "War" sempre adorei cerrar as fileiras dos meus exércitos naquele estratégico território para a partir dele desencadear minhas conquistas globais. 

Mas além do friozinho, o Alaska me colocaria diante de outro desafio, a língua inglesa. Em diversos momentos de minha vida, ginásio, colégio, cursinhos e até faculdade, estudei a dita cuja sempre com pouca empolgação , a ponto de nunca ter me apaixonado por ela. Logo precisaria de um "novo" curso intensivo.

Só que para tanto imporia algumas condições. Não estou a fim de esquentar a cadeira  em alguma sala de aula da "Cultura Inglesa", Cel Lep" ou "Yázigi" da vida. Portanto, teria que ser aula particular. Obrigatoriamente com uma boa e inteligente professora. Desejavelmente bonita. De preferência sensível e paciente. A tal ponto de não se perturbar com alguma recaída minha, algum discurso contra Bush, MacCain e até Obama. Ôpa! Que nessa hora tenha sangue frio para acalmar minha sanha anti-imperialista. E... pés bonitos também, porque afinal ninguém é de ferro! 

Mas aí vencida a barreira da língua, restaria a bolha... a bolha imobiliária. Você escutou o barulho? O estouro dela não a atingiu, né? E as "quebras" no sistema financeiro. O estrago do sub-prime. A inflação norte-americana. O mau humor de Wall Street. O sobe desce do Dow Jones. E a taxa de juros crescentes do Federal Reserve. Vivo num país de economia estável, será que me acostumaria com essas crises? 
Mas enfim e o fuso horário? Não, não haverá problemas. As palavras venceram a longitude. 

NOTA DE RODAPÉ: texto rabiscado no inicio da crise de 2008.

ESSA TAL DE SAUDADES

Que saudades da tua voz
Dos momentos que foram pra nós
Intensos e marcantes
Sem depois nem antes

Que saudades das caminhadas
Entre as árvores ou nas calçadas
Trilhas e caminhos de giz
Que ficaram com nossa marca e raiz

Que saudades da raquete e da bolinha
Do jogo que a vitória era tua e era minha
Ah também do Ibirapuera e do Parque da Aclimação
E quem diria, até do Minhocão

Que saudades do teu jeito
Do nosso caminho refeito
Da tua roupa branca de linho
Do nosso papo com vinho

Que saudades do teu cheiro
Daquele sorriso faceiro
Do teu olho, boca e cabelo
De você nua em pêlo

Que saudades do primeiro beijo
Do nosso macarrão com queijo
Da nossa pizza e cerveja
Da vida sem ora nem veja

Que saudades do nosso cinema
Com romance ou qualquer tema
Da nossa música inesquecível
Do Ivan, do Chico ou do nível

Que saudades da pipoca na panela
Do vaso de flor na janela
Do filme bem méla-méla
Do tipo “A vida é bela”

Que saudades do teu rosto
De sentir teu gosto
Do teu braço e da tua mão
E do teu pé, então...

Que saudades da companheira
Que bela e faceira
Me dava a mão ao anoitecer
E me beijava o rosto ao amanhecer

Que saudades enfim
Dos momentos de você e de mim 
Que no ocaso ou no amanhecer
Sei que não vou esquecer


terça-feira, 8 de maio de 2012

CARNAVAL

Dia de sambista e de folião
De passista e de samba-canção
Dia de fantasia, de vestir ou de sonhar
De trajes de luxo pra desfilar

Dia de tanga ou fio-dental
Tapa-sexo ou só pintura corporal
De camisinha ou camisão
Na avenida ou no salão

Dia de mulata e de baiana
De flamenguista e de corintiana
Dia de cerveja e de pastel
De namoro e de motel

Dia de confete e de serpentina
Da beleza da menina
Das figurantes ou da heroínas
Das anônimas colombinas...

REFLEXÕES COM A(HU)MOR...

Escrever textos para você?! 
Não sei não... Será que devo?
Creio que tal coisa se afigure como um grande desafio.
Seria apropriado aceitá-lo?
Haveria interesse e predisposição recíproca em topar tal empreitada?
Inspiração, motivo e prazer não faltariam, mas e juízo?
Além de oportunidade, existiria conveniência?
Excitante seria, mas e sensato?
Essa aventura literária nos conduziria a um lugar seguro? E a nós interessaria essa tal segurança?
Gosto de trabalhar as palavras, garimpar as frases e esconder nos textos o que há de mais explícito  em mim. Seria o caso?
Palavras e frases num sútil e criativo arranjo produziriam, nesta situação, a delicada carícia invisível a que se propõem?
Quando escrevo é um orgasmo. Caberia tê-lo? 
Poderia eu transgredir, ousar, subverter, abusar e mexer no fundo do mais profundo?  Ainda que com carinho e paixão? 
Sou bem imperfeito e cometo erros. O texto me redime. Faria sentido a redenção?
E se acaso cometesse algum deslize, quem sabe até um desatino! Se por descuido enveredasse por caminhos proibidos; não por mim mas por você. Quem sabe inoportuno fosse resvalando, ainda que sem intenção, por metáfora ou analogia, em algum tema que trouxesse desconfortos, arrepios ou o que é pior indiferença. 
Enfim... também posso escrever muito sem dizer nada ou dizer tudo sem nada parecer ter dito.


UM DIAS DESSES DE INVERNO...

O intenso frio da manhã mais do que o colorido das roupas estampa um sentimento diferente no rosto das pessoas. Esses seres, que se encolhem frágeis e vulneráveis diante da força natureza, parecem buscar em seus semelhantes, mais do que o calor que lhes aqueça os corpos, o quente aconchego d’alma que lhes cessem as carências e inquietações. 

O dia cinzento que escancara algumas mazelas sociais, tais como a de indigentes a mercê do rigor da estação, é o mesmo que revela a indiscreta elegância que os mais afortunados e suas grifes da moda ostentam.  
Algo me chama atenção naquele vagão lotado do Metrô, quando ele pára em uma das estações. Um jovem casal abre caminho entre as pessoas, a moça, miúda e com rosto de menina, se acomoda num banco do trem trazendo no colo um bebê, que envolto em roupas gastas é aquecido pelo aconchego da mãe e pelo olhar contemplativo e protetor do pai, rapaz franzino que naquele momento parece encontrar naquele pequeno ser que seus olhos miram a razão de sua existência.

A manhã segue e à medida que avança o frio diminui, cedendo lugar para o colorido do sol. E aí vem à tarde morena suave como um bálsamo que remove as asperezas, assim como que permitindo a redescoberta de um prazer esquecido. E eu, de novo atento ao que me cerca, contemplo a beleza da moça que passa sensual e radiante. Ela me sorri  e eu devolvo a atenção como que se estabelecêssemos um silencioso pacto de fé. 

E aí percebo que o índice “Dow Jones” não serve para medir meu prazer, nem mesmo o Ibovespa se presta pra isso. Que o frenético vai-vem das bolsas de valores, está totalmente alheio aos incertos e errantes movimentos dos habitantes deste planeta. E que a economia, a que fui apresentado, nos bancos escolares, como sendo a ciência que a administra a escassez de recursos com o objetivo de melhorar as condições de vida das pessoas, parece não dar conta dessa sua missão.

Mas agora é tarde, ou melhor, já é noite, e a noite sedutora, com sua magia e encanto, me convida a sonhar... 

VALOR

O sol que transpassa a janela
Tinge minha mesa de amarela
Traz a calma que preciso
A alegria de um sorriso

Busca-se a felicidade só na fortuna
Crê-se piamente que tudo as una
Como se mais nada existisse
Como se tudo mais fosse tolice

Como se dinheiro comprasse
E apenas em razão dele estampasse
Na face de uma inocente criança
O sorriso de amor e de esperança

LOUCURA

Amor com intensidade
O devaneio que se quer
Poetizando a realidade
Nos braços de uma mulher

Uma mulher simples e especial
Não qualquer nem comum
Que acredite que o ideal
É pra dois e pra cada um

Que dê e queira espaço
Que seja divertida e inteligente
tão lúcida, que sagaz e sutilmente
guarde loucura em seu regaço 

Afinal sem prazer, sonhos e alegria
vividos em boa companhia
o que resta é só fardo
de um entedioso resguardo





TRANSPARÊNCIA

Claros e brilhantes
Raros como diamantes
Ora verdes ora azuis
Lindos olhos que possuis

Deixam a luz transpassar
E devolvem a beleza do mar
Despertam a fantasia
Inspiram o verso e a poesia

São pueris e delicados
Porém firmes e determinados
Mostram você por inteira
Tal como és, sincera e verdadeira...

NAS NUVENS


Dias desses conheci uma piloto. Ou seria pilota? Encafifado com a questão recorri aos gramáticos. O professor Napoleão Mendes de Almeida não titubeou: sentenciou que é correto o emprego da expressão “pilota” como a forma feminina de piloto. Concordo, mestre!! Afinal se manejar com destreza volantes, guidões ou manches não é só pra marmanjos, tratemo-las  como pilotas.

Ela resvalou em mim e eu perdi o prumo. Pois o rumo já tinha perdido havia muito tempo. A impressão que ficou era a de que eu já a conhecia. Quem sabe duma sala de aula de alguma pós-graduação da vida, da barraquinha de churros duma  praça de Bauru ou quiçá dum voo de alguma dessas companhias aéreas tupiniquins. 

Minha trajetória até aquele dia já fora sinuosa. Talvez a dela também tivesse sido. Porém, mais rodado, com certeza, já havia enfrentado mais turbulência, refeito mais de uma vez minha rota, realizado decolagens, pousos forçados e arremetidas. Pela vida. Essa nave que já viajei no comando, de passageiro, de carona, de clandestino e até no bagageiro. Contornos, curvas, retas e atalhos que me colocaram naquele exato instante diante daquela figura das arábias.

O que me chamou atenção foi o uniforme que usava. Devia ser uma combinação da indumentária da Barbie com a da Penélope Charmosa. Tudo salpicado de brilho, purpurina e com sapatos dourados. E a franjinha então, a mais geométrica que já conhecera. De topete e topetuda, passo firme, rebocava sua mala, que com certeza guardava souvenirs, bonecas, lápis de cor, caderninhos com flor e quem sabe até o travesseiro da Nasa. 

Bonita, sagaz, sensível e... geniosa. Digna de um poema e de uma prosa. Romântica e sonhadora capaz de riscar no céu o desenho de um coração. Mas que quando atacada seria capaz de num rasante descarregar todo arsenal de um avião de caça. Se bem que ela, vaidosa, não dispensaria um vôo num zeppelin dourado, desde que esse tivesse um retrovisor que a permitisse checar se o seu  rímel da sobrancelha esquerda estava alinhado com o da direita. 

Ah... eu acho que me lembrei. Eu a conheço de outra encarnação!!! Dessas bem lá de trás, quando Papai do Céu deve ter escrito em sua cadernetinha de bolso que um dia, passasse o tempo que passasse, acontecesse o que acontecesse, “eu e a pilota voaríamos um do lado do outro”.

LIBERDADE

Pequeno, papai e mamãe, sagrada família
sem ser piegas, vir com rótulos ou apologia
Sim é importante! Não vivi mas sinto saudade
de algo que eu não sei como é que é de verdade

Esgoto o físico, aguço o intelecto, miro o equilíbrio e a calmaria

Mas inquietude e inconstância me fazem companhia
Como se existe um remédio que curasse essa ansiedade
Ou que pelo menos abrandasse toda essa dualidade

De querer espaço e ficar livre, mas às vezes se sentir sozinho

Pois que seja por vocação, opção ou descaminho
É com a solidão que se paga, mais cedo ou mais tarde
O preço da conquista da verdadeira liberdade...