sábado, 24 de setembro de 2022

O mundo home office na vida de um rueiro…

No tempo da D. Eudette dizia-se que a mulher que não era “do lar” e exercia uma atividade profissional “trabalhava fora”. Era o caso da dita cuja. Aliás, isso não era comum para as mulheres da geração dela. Seu consorte, de fato, era um afortunado. Já a recíproca… Mas ela nem imaginava que um dia seria possível “trabalhar fora” sem sair de casa! Infelizmente, seu filho, cronista home office, nem poderá rabiscar isso pra ela.

No batente desde cedo, como office boy, on the street not at home!, hoje tento me adaptar a essa nova circunstância do trabalho. Para mim o ritual do deslocamento, do ambiente externo, do almoço fora, dos colegas de trabalho, meio Silvio Santos né?, sempre foi o modus operandi da vida profissional!

Brigar com chefe a cores e ao vivo, mimar o funcionário olho no olho, zombetear Josés Reinaldos, Eduardos e Mônicas da vida, negociar no tête-à-tête, "bater na mesa" em reuniões com advogados, empresários e seus asseclas, bater papo com a mesa do lado no escritório, viagens a serviço por conta do patrão, tomar uns 10 cafezinhos da Dona Cida, tudo isso é sem igual apesar do trânsito e do custo financeiro.

Afinal um moleque de rua, que ainda moleque foi pro batente, adaptou-se melhor ao trabalho “fora”. A vida doméstica desde sempre me foi um terreno hostil. E cadê o happy hour? Aliás, peço desculpas aos fiéis leitores pelo anglicismo à la Santa Cecilia. Mas isso faz parte of the home office world.

Sendo assim, tão pouco familiar a vida caseira, ainda cogito um escritório para fazer lá o mesmo que faço em casa. Loucura? Sei lá. Entre outras coisas, só eu e o Abel Ferreira sabemos a vizinha que temos…
 
É verdade que o mundo digital parece cair como uma luva para o mercado financeiro, com seus sites, bolsas, ações, paralisações, pregões, índices, planilhas, projeções, calls, conexões, conferências e reuniões de negócios virtuais. Atas e desatas. 

Nem vou falar aqui em metaverso para não dar nó na cabeça de ninguém. Pois se o ambiente artificial tem suas vantagens nas relações comerciais e profissionais, eu, particularmente, não gostaria de delegar a avatares a vivência dos meus prazeres e dores. Como eles a rabiscariam?

Enfim, quanto ao home office, ainda que sopesadas as vantagens econômicas, viárias e ambientais, entre outras, confesso, mano do céu, que para um ex moleque de rua, inveterado rueiro, ainda soa meio estranho “trabalhar fora de dentro de casa”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.