Nos meus últimos tempos de Banco do Brasil trabalhei na área de mercado de capitais e operações estruturadas. Estruturando o quê, cara pálida? Sim meus pacientes leitores, cabe aqui uma breve explanação sobre esse segmento, que diga-se de passagem é bastante interessante e, conceitualmente, fundamental para a economia. Assim lá vem o cronista financeiro de estruturas de botequim…
Os grandes bancos têm setores específicos para as áreas de mercado de capitais, de aquisições, fusões, leilões públicos e reestruturação de dívidas de grandes empresas. Em face dos valores expressivos é muito comum os bancos sindicalizarem essas operações entre eles visando a mitigação de riscos. Falei grego? E olhem que essa área é de puro anglicismo. Inclusive com poison pill, a tal pílula do veneno.
Mas trocando em miúdos, como diria o grande Chico, nesse nicho os bancos realizam, em consórcio, os empréstimos para megaempresas. Só para exemplificar é comum sentarem à mesa, BB, Bradesco, Itaú e Santander e a megacorporação a ser financiada para “estruturarem a operação” de crédito, que em alguns casos nem crédito bancário tem, só a colocação de papéis, tais como debêntures, para investidores no mercado de capitais.
Imaginem a mesa! Os estruturadores de 3 ou 4 grandes bancos, da megaempresa ou órgão público, os jurídicos de cada uma dessas Casas e um grande escritório de advocacia contratado para “mediar” a operação e produzir, a muitas mãos e cabeças, os documentos jurídicos e comerciais do negócio. Pelo BB, muitas vezes foram este aqui e o Zé Reinaldo, filho da SANFRAN, do Largo São Francisco, em Sampa. O Zé, fã do Cauby Peixoto, nem tudo é perfeito, seguramente é um dos caras mais eruditos, inteligentes e articulados que conheci na minha passagem pelo Banco do Brasil. Modéstia nossa à parte, nós dávamos um pouco de trabalho para o tal Mercado.
Mas é óbvio que pela magnitude do segmento e dos valores monetários envolvidos algumas vezes injunções políticas do governo da vez podem prostituir o negócio. Seguramente foi o caso da privatização da Eletrobrás, realizado no último semestre do governo bolsonaro. Por se tratar de privatização de estatal desse porte e dos "interesses" envolvidos, os bancos participantes foram meros “colocadores” do papel no mercado. Todo o desenho da operação passou pela prancheta do Guedes. Haja vista que um dos bancos líderes do deal de distribuição de papéis foi o BTG Pactual, fundado por Paulo Faria Limers Guedes.
Deixo para outra crônica minha visão sobre as privatizações. Quem me conhece já sabe qual é… Ixi.. um comunista infiltrado no mercado de capitais! Calma, meus leitores, repito, conceitualmente, o segmento de mercado de capitais é fundamental para a economia e desenvolvimento do País. Mas nunca para estruturar operações de entrega de patrimônio público para a iniciativa privada.
O caso da Eletrobrás então é uma aberração econômica, jurídica e policial! A gigante estatal prestadora de serviço essencial, energia elétrica, com a privatização passou a ser controlada pela 3G Capital e sua subsidiária 3G Radar, ambas do trio de bilionários da Americanas. Aqueles sim, do golpe, que o Mercado faz vistas grossas e “passa pano”. E cujas fortunas não são taxadas pelo Fisco. Os do topo da cadeia alimentar, os “super-ricos”, defendidos pelos singelos pobres de direita, os “perus de Natal”!
A cereja do bolo, ou da privataria, foi a estruturação da operação, pela patota do Guedes, com o mecanismo anti reestatização, ou também chamado de anti-Lula, a tal pílula do veneno! Assim com cobras e sem antítodos apagaram-se as luzes…
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