sexta-feira, 16 de novembro de 2018

CEM DIAS DE RECLUSAO

No vilarejo imaginário de Macondo, Gabriel Garcia Marquez ambientou a saga dos Buendia, em sua obra prima “Cem anos de solidão”. Excepcional retrato do povo latino- americano criado por esse escritor, jornalista e ativista político de esquerda, compatriota de Shakira, Fernando Botero, de Valderrama e do nosso palestrino-colombiano Yerry Mina.

Na cosmopolita Curitiba, escreve-se por outras mãos, locais, nacionais e de além fronteiras, sem o mesmo talento e ideais de Marquez, outra página triste da história política latino-americana. Hoje completam-se “Cem dias de reclusão” de um dos maiores líderes políticos de esquerda do continente. Preso desde 07 de abril de 2018, Luiz Inácio Lula da Silva cumpre pena pelo crime de ameaça letal ao establishment coxinha tupiniquim. Preso político!

Sem provas, sem apartamentos em Paris, sem helicóptero com coca, sem malas de dinheiro, sem gravações de propina, de ameaça de assassinato, sem liberação de verbas para barrar indiciamento, sem encontros secretos nos “porões” do palácio ou conspirações madrugadas adentro, enquanto os incautos trabalhadores dormem, sem nada, Lula é condenado. Acima do bem e do mal, ou abaixo deles, Lula é culpado. Julgado e condenado pela atual maior estrela da Rede Globo, com 100% de heroísmo no Jornal Nacional, o herói nacional, Sergio Marreco Moro, o conje mascarado!

Só não contavam que depois de 100 dias, o ex-torneiro mecânico, sindicalista e presidente da república, ainda representasse “perigo”. Pois sim, o sujeito que encheu a barriga vazia de 38 milhões de brasileiros, mesmo abatido, isolado, preso e calado ainda tira o sono da direita nacional. Como diria o compositor Clésio Ferreira em sua Revelação: “Quando a gente tenta de toda maneira dele se guardar sentimento ilhado, morto, amordaçado volta a incomodar..." Lula lidera qualquer pesquisa elaborada por essas paragens, de qualquer instituto, com seus inabaláveis 30%, arrebatando o “trono” no segundo turno.

E daqui cem anos, num “livro” de história, digital, cibernético ou de qualquer natureza tecnológica da época, reverberará mais esse soturno capítulo da política latino-americana, teleguiada por interesses de lá mais ao norte das Américas, a terra da CIA, aquela mesma que perseguiu, por sua filiação ao Partido Comunista e amizade com Fidel Castro, o genial autor de “Cem anos de Solidão”.

O deusmercado ou o mercado sem Deus


Os chamados “Chicago boys”, com o apoio da CIA, no Chile, durante a ditadura militar de Pinochet, os EUA, no governo Ronald Reagan, e o Reino Unido, na gestão da primeira-minstra Margaret Thatcher foram os primeiros países a adotarem a chamada política neoliberal, que, em resumo, defende a maior, e quase que exclusiva, participação do setor privado, “mercado”, na economia de uma nação.

No receituário neoliberal, o Estado, e o povo por conseguinte, só é chamado a participar quando é preciso salvar e/ou repartir o prejuízo do grande capitalista, como sobram exemplos recentes, em especial no mercado financeiro, aqui, nos EUA ou na Europa.

Os nomes dos governantes aqui citados, talvez, já falem por si só em relação às suas idéias e modelos de governos. Um ditador sangrento, um dublê de ator e presidente, tão mediocre quanto o seu atual sucessor, e uma “dama de ferro”, que sua triste morte e biografia a definem, são os precursores da implantação na economia mundial do neoliberalismo.

Um sistema econômico muito zeloso com o capital e o lucro do grande empresário, com os índices das bolsas de valores, fetichistas do “Dow Jones”, “Nasdaq” ou do tupiniquim “Ibovespa”, e cheios de mimos com os investidores sem pátria e sem fronteiras, que em sua maioria aplicam o seu “rico dinheirinho” não na produção mas sim na especulação.

Espalham pelo planeta, cooptando até pobres almas desavisadas, a sua receita da felicidade. A deles! De Nova Iorque pelo mundo afora. Com ramificações que se entranham na economia, polítca e até na “justica”. Com seus fiéis e remunerados colaboradores desde Chicago até Curitiba.

Modelo que produz perversa concentração de renda, desprezo pela questão social e fotos tão lindas quanto tristes e emblemáticas. Seus retratos coloridos e em preto e branco.

BATENDO PANELAS


Ideologica e politicamente, no Brasil, a direita, centro-direita, ala liberal, neoliberal ou “coxinha” mesmo, como queiram meus resistentes leitores, sempre se utilizou de ícones, modelos ou estratégias de outras paragens conservadoras em suas estocadas manobristas aqui nas terras tupiniquins.

Pensando em termos de marketing de massas, os arautos desses movimentos talvez, quem sabe, se utilizem, por exemplo, de panelas, utensílio tão popular e emblemático para a satisfação de uma necessidade básica do ser humano, para sinalizarem uma preocupação social e popular que decididamente não têm.

Senão vejamos, finalmente no poder, a “direita” descarta as panelas e… as massas! Porque o receituário liberal ou neoliberal avança sempre em direção aos cortes de verbas sociais, tais como as da educação, saúde, moradia popular e de bolsas de auxílio de combate à fome. A proteção ao sagrado lucro dos acionistas e o “crescimento” sem distribuição de renda é o grande mantra do deusmercado. Já viram algo parecido?

Manipuladoras sim, pois nesse balaio “ideológico” os mais portentosos detentores da estrutura de produção e de capital conseguem arrastar para suas trincheiras parcelas da população remediada ou desremediada de toda natureza. Aliam-se um lado, por convicção e interesse, com o outro, por ingenuidade e/ou ignorância, desculpem mas o eufemismo em nada ajudaria nessa hora.

Não é por acaso que o chamado “panelaço”, ou a nossa boa e “velha” batida de panela, teve origem, como fenômeno social, em 1971 no Chile como forma de protesto contra o governo de Salvador Allende, primeiro presidente de república e chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente em toda a América.

Allende governou o Chile de 1970 a 1973, quando foi deposto por um golpe de estado liderado por seu chefe das Forças Armadas, general Augusto Pinochet, reponsável por uma das mais sangrentas ditaduras militares já implantadas na América Latina. Perdoem meus pacientes ledores por escrever o que já sabem, mas um pouco de história certamente não faz mal para alguns brasucas.

E por falar em história, só a título de curiosidade, apenas e tão somente, o presidente Salvador Allende, no Chile, foi golpeado em 1973 após uma greve de caminhoneiros.

MISTURA

Sonhos românticos, fragmentos de poemas
roteiros incertos, caminhos com dilemas
se de tudo isso se vive um pouco
por nada sobrevive esse amor louco


Mas insano é esse mundo, seara de fúteis expressões,
rótulos, estigmas e preconceitos aos borbotões
de mentiras oficiais, receitas discutíveis
palavras decorativas e discursos perecíveis

Mas se há frágeis relações de interesses descartáveis
sobrevivem vínculos d’almas e uniões intermináveis
se sobejam mágoas e rancores guardados
não se encarceram paixões e desejos escancarados

Se de todo esse mosaico, de toda essa mistura
o que me resta é essa loucura
que seja essa minha verdade
o seu amor, minha perfeita identidade...