domingo, 19 de novembro de 2017

O BOLO E O “MILAGRE” SEM REPARTIÇÃO

O chamado “milagre econômico” ocorreu no inicio dos anos 70, no “coração” do governo militar brasileiro, se é que existe um desses num regime de exceção. Anos de chumbo. E este rabiscador, que até veio a cursar a tal da economia depois, acredita que ainda que não tenhamos vivido determinado período um pouco de história não faz mal a ninguém.

À época, nosso czar econômico, o senhor Antonio Delfim Netto, implantou no Brasil agressiva política de exportações de commodities, achatamento salarial e aumento exponencial de nossa dívida externa para financiar o desenvolvimento econômico mas não social.

Experimentou-se assim o tal do “milagre econômico”, através do qual alcançou-se crescimento anual do PIB de 11%, com o “marginal” detalhe de que toda essa riqueza era concentrada nas mãos, e bolsos, duma casta e afortunada parcela da população.

Delfim Netto tinha uma frase lapidar para justificar essa anomalia cíclica, dizia que “era preciso crescer o bolo para depois reparti-lo”. Se à época o deus mercado já fosse cultuado tal qual é hoje, economistas seguidores dessa seita teriam múltiplos orgasmos com a teoria delfinista.

Bom passaram muitos anos e nada de repartirem o tal bolo. Sobraram para os do “andar de baixo” os sacrifícios sociais com o pagamento da gigantesca dívida externa contraída. Com a ingerência do tal de FMI–Fundo Monetário Internacional- receitando políticas de arrocho e concentração de renda para que pudessem garantir o recebimento deles.

Enfim, gostem ou não os antipetistas, antilulistas, antidilmistas, economistas antikeynesianistas e neoliberais, foi durante os governos petistas que veio a tal divisão do bolo! No maior processo de inclusão social após décadas de modelos econômicos concentradores de renda.

Mas como às vezes, infelizmente, a história se repete, hoje vivemos período de “euforia” dos economistas neoliberais, que fazem vistas grossas para um governo vampiresco para os pobres e recheado de denúncias, para comemorarem a recuperação da “economia dos barrigas cheias” enquanto outras vazias desmaiam de fome na escola primária e precária.

sábado, 18 de novembro de 2017

A Dona Cida e a máquina de café do Prédio “Verde”


Hoje a máquina de café estava sem serviço. Chato. Mas chato mesmo é que a Dona Cida também está sem serviço. No banco (do brasil) de reserva, na espera. No caso dela sem trabalho e remuneração. Oficialmente, a informação é de que no projeto de prédios ecológicos ou “verdes” não há espaço para lixo, migalhas, resíduos alimentares, e ao que parece também não há lugar para a espontaneidade e simplicidade da Dona Cida.

E olhem, meus penitentes leitores, corporativos ou não, que tenho mania por limpeza, organização e ambiente clean. No meu esconderijo residencial a mobília é minimalista. Sou obcecado por grandes vazios espaciais. Por ecologia e pelo verde então, nem se fala! Criado na rua e “trilheiro” por vocação, apaixonado pelo verde de palmeiras e palmeiras. Mas o que me incomoda é a desumanização do ambiente ecológico corporativo. Árido e frio. Descomprometido com o emprego das pessoas e com o que isso representa, em termos de ecologia e sobrevivência do planeta e de seus habitantes mais modestos.

Eu abro mão do comodismo do café com xícara na mesa, mas ir tomar o dito cujo numa dessas copas empresarias da vida, no meio do dia, e trocar, por alguns instantes, a selvageria do mundo financeiro, ou de qualquer dessas selvas que o valha, pela atenção e carinho da Dona Cida não tem preço! Tenho admiração especial por essas pessoas simples e lutadoras. Que conservam certa pureza tão bem contrastada com a ardilosa sabedoria que campeia no mundo regido pelo signo do deus “mercado”.

Gente humilde e briosa, que trabalha e em cujo trabalho cada posto suprimido são bocas sem alimento e corações sem esperança. Sabedores de que não nasceram com uma “estrela” na testa. Batalhadores que precisam ir à luta para garantirem seu sustento e de sua prole pois não tem quem isso faça por eles. 

Enfim a máquina de café nunca vai substituir a Dona Cida, pois a maquina de café, ainda que volte ao serviço, com açúcar ou adoçante, vai ficar me devendo o afeto do doce sorriso da Dona Cida.


sábado, 11 de novembro de 2017

PRELÚDIO

Amores de menina
agouro de bruxos
aves de rapina
tudo que começa
mas nunca termina

Dia a dia
o que não morre de cotidiano
sobrevive por amor
ainda que calado
prazer adormecido pela dor

Ensaio de nova vida
Compromisso de outros tempos
interrompido pela partida
com a mudança dos ventos

Eterno prelúdio
do sentimento que pulsa latente
e de repente renasce
silenciosa e desvairadamente...

PARADOXOS CONVERGENTES

Rasgam os véus dilaceram a pele em traços
Deslumbre carência de menina bonita 

Apaixonada, obcecada e... aflita
Frágil corajosa, errante em seus passos 

Intensa e fugaz mata-se por amor
Renasce ainda mais bela da própria dor

Verso tupi poesia cabocla 

Rabiscada no olho e na boca
Melodia tranquila mas ao som de tambores
Arrebatadora fêmea vestida de amores
Criança sensível e protetora 

Loba possessiva e invasora

Suave amor arrasadora paixão
Sonha, ó cabocla, com casinha no campo
Devaneia, ó princesa, vestida em seu manto
Menina mulher, doce e feroz encanto...






INVISÍVEL

Apesar de terem me visto nem assim também me acharam
talvez até tivessem revirado esses versos amarrotados
mas que nada, nem aqui nem lá me encontraram

Rótulos e preconceitos inúmeros
nem argumentos frágeis os negam
nem assim me enquadram
pois se veem o corpo a alma os cegam

Fico e vou, nem mais aqui eu estou
sobraram as palavras, os sentimentos
talvez um sonho que nem eles nem o tempo apagou.