Geralmente temos memórias afetivas de pratos e guloseimas da infância. Aquelas saudosas receitas caseiras de mães, ou de avós, que sempre nos acompanham pela vida. No meu caso foi já na idade adulta que comecei a colecionar memórias e recordações de iguarias. Foi de carona, com meus filhos, que descobri os dotes culinários da minha mãe. Eu diria que dona Eudette pelos netos dela até cozinheira se revelou.
Justiça seja feita, minha tia Marcela era muito boa de culinária, era por assim dizer a cozinheira da família. Eu me lembro bem de seu pavê de coco, tão espetacular que nunca conheci outro igual. Sim, era a minha tia do pavê. E foi na casa dela que eu fui criado. Porque as memórias visuais e sonoras da minha primeira infância, essas sim bem marcantes, me levaram para lá. Para morar com minhas primas, a dona Marcela e seu Antônio, o meu tio. Tio que se fizesse alguma piada do pavê da sua esposa o levaria pela fuça.
Sim a dona Marcela era brava, minha italianinha brava como já rabisquei em algumas dessas crônicas da vida. Contrastava, ainda bem!!, com a “calma” do seu Antônio, o palestrino das Minas Gerais. Ela fazia costura em casa “pra fora”, era a rainha do lar! Fosse o mineiro a atrever-se a desobedecê-la. “Ô trem bravo parece que não é mineira”, dizia ele, ao que ela retrucava: “Graças a Deus”!!
Já a sua irmã, dona Eudette, era o oposto. Trabalhava fora, sustentava a casa, era uma leoa da porta pra fora. Mas dentro de casa era difícil trombar de frente com seu marido. Cachaças, bares, delegacias, canas, hospitais, feridos e feridas conheciam bem a fúria descontrolada do seu Agripio. A antítese do pacato seu Antônio, mas que, ironicamente, também gostava da água que passarinho não bebe…
Mas enfim, cheguemos as minhas memórias afetivas culinárias! Sendo assim, lá vem, então, o cronista gastronômico de botequim! Já crescido, casado, ou melhor divorciado, levava eu “religiosamente” todo final de semana meus filhos à casa da minha mãe. E sentado à mesa, no chão, no sofá ou em qualquer lugar do "apertamento", empoleirado como criança ao lado do Xan e da Caru, eu degustava bifes à milanesa, macarrão com molho, drumets de frango, a folha de alface “sem caroço” que ela preparava para a neta dela junto com o tomate bem maduro, ao gosto do seu neto. Depois de 5 minutos… tinha pipoca! Ah mas o melhor estava por vir…
Antes cabe um registro, o pavê da “Amor aos Pedaços” (um dia vou cobrar todos esses merchans!) muito se aproxima, em termos de qualidade do da italianinha brava. Só não encontro por aí, os bolinhos de chuva da dona Eudette, que servidos depois de toda comilança ela carinhosamente chamava de bolinhos de emergência. Talvez porque em pedaço nenhum vai caber todo o amor daquela avó pelos seus netos.
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