Nenhum pálido festejo a ser celebrado
Eis o retrato em preto e branco de um tempo deserdado
No qual sobejam explicações e faltam motivos
Gestos contidos, sorrisos encenados e pouco intuitivos
Expira-se o homem incompreendido
Passa o tempo sem ser vivido
revira-se o baú em busca de um alento
que torne sonho o que parece tormento
Que válido seja esse devaneio à forceps parido
nem que seja para inspirar versos que lhe deem sentido
Que permitam que essa ansiedade repouse serena
na beleza inquieta de uma pele morena
Que na vida e na arte o caminho mais uma vez refeito
seja ainda que imperfeito a chance de recomeço
sobrevida e transformação de quem sempre mutante
encontra nas mudanças a razão ainda que mesmo distante
LA VITA SCRITTA IN VERSI E IN PROSA! Blog criado em abril de 2012.
sábado, 21 de maio de 2016
sábado, 2 de janeiro de 2016
OS POODLES, OS JUDEUS E O MINHOCÃO
Recentemente mudei de endereço residencial. Isso sempre traz novidades e reflexões, até mesmo para um cigano contumaz. Pois, feitas as contas, em dezesseis anos a atual é a minha sétima alteração de domicilio. Haja carreto. O mundo gira, a lusitana roda e... eu mudo. Aqui cabe uma legenda aos meus jovens leitores: a Lusitana era uma famosa transportadora especializada em atender cronistas nômades. Andiamo via!!!
Mas tenho a impressão que devo “sossegar o facho”. Aliás, ando com esse objetivo. Em todos os sentidos. Mas voltando à casa nova, mudei para o “baixo” Higienópolis ou “altos” de Santa Cecília. Agora é a vez de desenhar a piada para os não paulistas. Moro bem na divisa dos dois bairros, Higienópolis, luxuoso e valorizado, e Santa Cecília, este último, digamos assim, sem o mesmo luxo do reduto de FHC e de outros “ilustres” paulistanos.
Da minha quadra para cima, sentido shopping Higienópolis, proliferam os quipás, os chapéus judeus ortodoxos, as vestes comportadas das mulheres e as tradicionais famílias judias, formadas, em geral, pelo casal e dois filhos. Lá circulam, ainda, os poodles brancos, alvos tal qual a indumentária das babás, comuns na região. Entre prédios de alto padrão e padarias nababescas completam o cenário da região as academias de grife. E até algumas mais modestas, entre as quais uma delas este escrevinhador é assíduo frequentador. Afinal, malhar faz bem pra cabeça e até para o corpo também.
Já do meu quarteirão para baixo, rumo ao Minhocão - deste acho até que os europeus já ouviram falar - transitam, por assim dizer, uma casta mais modesta da sociedade paulistana. E pensante e pulsante! O lado artístico, descolado e intelectual da região. Assim como espreitam os três mil e quinhentos metros do famoso viaduto “Malufista” prédios cinzentos, feios e depreciados pela fumaça, o barulho e pela burrice das autoridades.
Mas creiam que o Minhocão é arte, não por obra do infeliz e desastrado projeto de quem o concebeu, mas sim pela capacidade de improviso, reinvenção, sobrevivência e adaptação do homem. Por afinidades, democráticas, intelectuais e atléticas, por lá eu dou as caras. Correr é preciso. E na mistura do cheiro de maconha e similares, dos latidos dos vira-latas e do lazer de outros (sobre)viventes também sem pedigree, percebo que há vida inteligente e solidária que humaniza aquele estúpido monumento à priorização da máquina ao homem.
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