segunda-feira, 12 de outubro de 2015

À FLOR DA PELE

Por tudo tão descartável seduz-me o fascínio da tatuagem
não por ser moda, efemeridade que tanto incomoda
mas sim pelo encanto do que perdura por toda a viagem
por isso não traga à flor da pele o que não lhe pertence...

Que outro sentido se tem para o anseio de tantas vivências
se não o mosaico que nos tornamos com essas experiências
marcas de vida, indeléveis na alma e no corpo
de quem errou e acertou, viveu e amou
e que sei lá para o quê não se guardou 

Como se o mundo asséptico não envelhecesse
como se a vida dissimulada também não morresse
Marias, versos, lágrimas, prazeres, caminhos e paisagem
que passam,  mudam,  mas ficam marcadas  na pele.

domingo, 27 de setembro de 2015

DO FIM PRO COMEÇO

                       

Benjamin Button mental. O corpo segue o ciclo natural, mas a mente, renitente, tem curso “anormal”.

Nasce com alzeimer, sem registros da fase oral. Memórias de tombos e de pesadelos de noite e de dia. Infância furtada. Sem fantasia.

Depois os sofás, ora aqui ora ali. Já conseguia sonhar!  Mas ainda constrito, sem chances de errar.

Cresce logo, para ganhar dinheiro. Sem tempo de se formar engenheiro vira vassalo de banqueiro. Atalho ao poder e às atenções.  Revide ao destino pelo sufoco e humilhações.

Adultece em quixotescas ou comezinhas batalhas. Mas começa a virar criança, indultado pelas medalhas. Se dá às fantasias. Desajeitado com elas, se entrega sem distinguir realidades e utopias.  Descobre, no amor e na dor, suas idiossincrasias.

Envelhece com alma de criança travessa. Ou de poeta, que vive seu tempo de forma avessa. Do fim pro começo. Como se sonhasse com um novo recomeço.   

 





terça-feira, 26 de maio de 2015

FANTASIA

Nem a dificuldade mais astuta
Sequer o drama me assusta
Temo sim perder a fantasia
Que adormece minha noite
E acorda meu dia

Então me agarro a esse devaneio
Que me segura pela mão
Pois minha frágil heroína
É a minha salvação

Ela me dá força e coragem
Motivo para seguir viagem
Ser dela o herói é a emoção
Amá-la e cuidar dela é a razão

Seu remédio não me cura
Seu cuidado é que me salva
Delicada como sua pele alva
Que ilumina minha noite escura

terça-feira, 5 de maio de 2015

SILÊNCIO E SENTIMENTO

O sentimento tal qual o silêncio é eloquente
Com eles não se inventa e nem se mente
Sem palavras,  a verdade se encara
Nua e crua... desconcerta e escancara

A flor da pele, um arrepio
Não há maldade pois não é vil
Não tem razão é sentimento
Não pede licença nem consentimento

Faz-se  presente quando não se espera
Ainda que quieto, ecoa e reverbera
Não é cartesiano, não têm fórmulas e nem roteiro
Nos abandona e é companheiro...

sábado, 7 de março de 2015

SENTIDOS

Coloridos balões
De chegada ou partida
promessas e ilusões
De dar sentido pra vida

Enfim tal qual o veloz avião

O nosso tempo passa corrido
Pois amar também é doído
E  juventude não é salvação

Sim... devaneios e sonhos

Mas sem pueris alienações
Pois até pesadelos medonhos
Tem lá suas razões

Pois sem ideais e conteúdos

Ainda que com fala e ouvidos
vivemos alienados, surdos e mudos
em busca de outros sentidos

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

COM PÉ E CABEÇA

A Av. Paulista anda diferente. Isso porque os que andam por ela têm andado diferente. Seja no calçado, na calçada ou na “ciclofaixa”, ora em fase de implantação por essas bandas. Aqui cabe uma explicação técnica, a “ciclovia” é o espaço, separado fisicamente, para o tráfego de bicicletas, já a “ciclofaixa”, modelo adotado em Sampa, trata-se de uma das faixas de rolamento da avenida, pintada no chão, com “olhos de gato” ou “tartarugas” de sinalização. Eu, particularmente, prefiro mais gatas e lebres na pista. 

Os verões cada vez mais rigorosos, o trânsito mais caótico, o Metrô mais abarrotado e a crescente e louvável preocupação com a saúde física,  da coluna, coração, pés e circulação, têm mudado a forma de andar do paulistano. Percebo isso aqui na Paulista, espécie de vanguarda de tendências, referência e catalisadora da cidade.

Não pretendo entrar na discussão sobre a viabilidade e prioridade das ciclofaixas, até porque isso remeteria para uma discussão política, e para ambas tenho opiniões e posicionamentos bem definidos, mas acredito não seja esse o melhor espaço para externa-los. Até  porquê, meus pacientes leitores,  quero falar mais sobre os pés do que a respeito das rodas, sejam elas de bicicletas, ônibus, carroças, carros ou da máquina pública, seja ela estadual (PSDB) ou municipal/federal (PT). Pois esse assunto me dá sede!!!!

Fico impressionado com a quantidade de rasteirinhas, sandálias de saltinho, abertas e/ou escancaradas e “havaianas” (o merchan é inevitável) que desfilam nos pés femininos aqui pela Paulista e pela linha Verde do Metrô. Elas conectam às ruas e conduções aos escritórios e representações, quando são substituídas pelos sisudos, mas elegantes, sapatos e sandálias de salto 15!!

Aí cabe um alerta, meninas! De todas as idades! Pés e unhas bem cuidados são fundamentais. Como diria um cáustico amigo, calcanhar tipo queijo faixa azul (de novo merchan) é inadmissível. E as unhas, a lá francesinhas, sem esmaltes ou com estes mais claros. Com o vermelho, por favor sem preconceito!!, com o azul Suvinil (olha o merchan aí) ou mesmo com os 50 tons escuros, apesar de que, cá entre nós, mais parecem dedos pisados. 

Já os meninos, no seu trajeto, misturam paletó e gravata com tênis e mochila. Descolada, confortável e bem humorada composição. Pois enfim, em tempos bicudos como esses, a pé sobre rodas ou trilhos parece que manter pés e cabeças arejados e saudáveis mais do que moda é uma questão de sobrevivência...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

DESAFOGO

Eu voo sem asas e avião
A bordo da imaginação
Sem bilhete e passaporte
À minha própria sorte...

Ignoro o meu destino
Nem sei de onde parto
Se é devaneio ou desatino
Só assim me sinto farto

Seja por dom ou ansiedade
Talento, sina ou identidade
O que chamam de criatividade
É só outra visão da realidade

Se me escassear a prudência
Que não me falte a inteligência
E que seja por tristeza ou alegria
Que não me falte a poesia.