Para o público infanto-juvenil que me acompanha eu preciso esclarecer: Notícias Populares, também conhecido simplesmente como NP, foi um jornal que circulou em São Paulo entre 15 de outubro de 1963 e 20 de janeiro de 2001 e era conhecido por suas manchetes violentas e sexuais. É considerado até hoje "sinônimo de crime, sexo e violência”. Seu slogan era "Nada mais que a verdade".
Voltando para o balcão e para meus devaneios matinais, mais do que as notícias, infelizmente cotidianas, duas coisas me chamaram a atenção naquele cenário matutino: primeiro o ar grave e sério, mas com sorriso enigmático no canto da boca, da âncora televisiva, que navegava acima das desgraças que narrava, e depois a naturalidade com que todos na “padoka” alternavam movimentos de degustação com atentas esticadas de olho em direção ao aparelho de televisão. Era como se a média com pão e manteiga ficasse mais “saborosa” acompanhada por aquelas desventuras servidas à la carte.
Cigano, filosofei que “variar” tem um preço. Suspirei de saudades da elegância, classe e inteligência da Renata Vasconcellos, a bela carioca da Bella Paulista. Lembrei da minha TV, que, não por acaso, passa 362 dias e catorze horas por ano desligada. Recordei do rotineiro, mais simpático, café-com-leite-e-pão-com-manteiga-do-BB, senti falta até da Ana Maria Braga e de seu zombeteiro papagaio da Flor do Paraíso. Por fim, veio a minha memória as idéias de um professor “zen” duma dessas pós-graduações da vida que defendia o sagrado direito à não-informação.
Exageros xiitas à parte, eu sai da padoka refletindo acerca da relação causa-efeito entre a violência e a sua glamourização. Segui pela avenida, lotada de batalhadores do dia-dia, elocubrando sobre o “ibope” que se dá para malandros, desocupados e criminosos e para os boçais e oportunistas que os transformam em “celebridades”. Sobre o estranho fetiche que as pessoas têm de acompanhar a desgraça alheia, via satélite. Imaginando que o finado Notícias Populares, que diziam que quando amassado jorrava sangue, diante dos atuais noticiários e programas “jornalísticos” não passaria de um inofensivo e divertido livro de estória infantil.