Aqueles que me seguem, tem louco pra tudo, já devem ter lido sobre o meu tio Antônio e sua velha e muito usada perua Kombi. Ela era o seu ganha-pão, com queijo, financiada pelo Bradesco com a interveniência e apoio monetário da sua cunhada, Dona Eudette. Em infindáveis prestações a perder de vista e do bolso.
Tonho mineiro, assim chamado pelos amigos, era um sujeito simples com pouca escolaridade mas muito trabalhador. Ele e a dona Marcela, irmã mais velha da minha mãe, me criaram. A italianinha brava que fazia costuras para fora e dentro tecia a cabeça do seu marido.
Ainda pivete fui muitas vezes levado ao antigo Palestra Itália. Sim, foi meu tio e a sua destemida Kombi que me apresentaram à minha paixão em verde e branco.
"Eu sou Palmeiras sim senhor
E bebo todas que vier
E canto meu porco
Meu único amor!
E dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, ô
E dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, ô..."
E, ainda, mais tarde, o seu Antônio e sua "máquina" que me ensinaram a dirigir. A boa e velha perua que cheirava a queijo, aquele mesmo que meu padrinho entregava como motorista dos Teixeiras. Fim dos merchans! Até porquê nem a família do Amador Aguiar nem a do Teixeira vão me pagar cachê por esta crônica de botequim.
A máquina com seus eflúvios queijeiros tinha seu volantão mecânico, para-choque modelo joelhos de motorista e câmbio manual, aquele que era do tamanho de uma perna. Pilotagem raiz!
E por falar em beber todas, a Kombi não era a álcool, mas aquele palmeirense bebia todas sim senhor, afinal o bom e sofrido mineiro não era de ferro. Mas ele era tranquilo, mesmo a cachaça não o tirava da sua zenzice mineira. E a sorte do Tonho é que naquela época não havia bafômetro, inspeção veicular nem outros "trem" desses. Já a minha é que ele era um excelente motorista. Mandava bem mesmo, não em casa é claro...
Hoje devidamente incorporado ao mundo automobilístico do câmbio automático me sinto monotonamente ocioso ao volante.
Afinal é cômodo mas, mano, tira o prazer da pilotagem, aquele de engatar a quinta e acelerar! Parece que o bólido está menos nas suas mãos. Desconfio até que o tio Antônio ia achar o câmbio automático igual a cerveja sem álcool, a qual ele nunca bebeu. Uai...