sábado, 29 de setembro de 2012

LASANHA ÁRABE

Dia desses lembrei-me de Marco Polo, o navegador. Mesmo tendo percorrido caminhos distintos do veneziano, no final das contas, fiz uma descoberta parecida com a dele. É certo que o italiano desbravou mares inóspitos e desconhecidos em sua aventura rumo ao Oriente. 

Mas eu percorri a Radial Leste e “subi” a Rua da Mooca, de cabo a rabo, por volta das vinte horas, de uma quinta-feira paulistana!  Mares conhecidos, porém bravios, meus caros e pacientes leitores não residentes em Sampa. Portanto, vamos e venhamos, nada fácil!  Até a Rua dos Trilhos, ainda que sem os ditos-cujos, surgiu no meu precariamente asfaltado caminho.

Enquanto o “nobre italiano” singrava com sua impoluta embarcação rumo ao Oriente, eu, “italiano do Brás”, naufragava nos faróis vermelhos de todas as vinte e cinco travessas da boa e velha Rua da Mooca. Viajava este aventureiro embarcado num legítimo exemplar da Fabrica Italiana de Automóveis de Turim. Tutti buona gente!

Eu talvez soubesse menos do que ele o que me esperava. Ele estava em busca da seda. Eu de seda, parecia mais o próprio bicho fora do casulo. Porém, o destino também me reservaria algumas deliciosas surpresas. Macarrão, à vista!!! E, assim, ambos rumávamos para o leste.  Marco, se me permitem a intimidade de “conterrâneo”, para o leste do planeta, já eu ia para a zona leste de São Paulo, mesmo.

Não pretendo entrar na discussão da origem do “nosso” macarrão, que chineses, árabes, italianos, cantineiros do “Bexiga” e a chefe de cozinha da Mancha Verde    reinvindicam. Se bem que ao que parece já foram encontrados, na região da Rua 25 de março, pacotes de macarrão da idade média, com validade de 650 anos, da marca “MacJac”,  made in China.

Mas torre de Babel à parte, a mim interessa apenas falar sobre a melhor lasanha árabe que degustei em minha vida. A versão islâmica dessa iguaria, a qual minha avó já me apresentará em seu tradicional modelo com presunto, queijo e molho à bolonhesa 4X4. Assim como Marco, também descobri que além da boa pele de seda, o Oriente também nós reserva agradáveis segredos culinários. 

sábado, 22 de setembro de 2012

ENTRE GREVES, ELEIÇÕES E REBAIXAMENTOS

Primeiro Ato - Anos 70

O meu tio Antônio e sua velha Kombi me apresentaram àquela que viria a ser uma das primeiras paixões da minha vida. Com menos de 10 anos, empoleirado no  banco traseiro da simpática “perua”, a Kombi,  eu era levado, junto com mais uns dez amigos do meu tio, ao santuário do Palestra Itália.

Lá fui convertido a uma religião chamada futebol. Os fiéis assistiam à “cerimônia” entoando hinos, gritando, xingando e dançando como crianças. No gramado, em que a luta os aguardava: Leão, Eurico, Luiz Pereira, Alfredo, Dudu, Ademir da Guia, Leivinha, César “Maluco” e Ney. Era um tal de Palmeiras!!!

Eu deslumbrado tentava repetir na “pelada” de rua as jogadas que assistia no campo. Porém, como peguei no batente logo cedo, tive que trocar a bola pela sola,  do meu sapato. Virei  “office-boy”. Meus jovens leitores, “office-boy” era uma espécie de “moto-boy” sem a moto. De busão, mesmo!

Segundo Ato - Anos 80

Com o perdão da má palavra, sempre fui um sujeito politizado. Idealista e romântico, ainda jovem me interessei por política e sociologia. Aquilo me fascinava, um “Quixote” entre textos e idéias revolucionárias. Tem louco e gosto pra tudo!!

Lia os cadernos de política e economia dos jornais e revistas. O País “tentava” sair da ditadura militar e o material era farto. O engajamento político e social produzia obras-primas na música e nas artes em geral, ainda está por aí um tal de Francisco Buarque de Holanda que não me deixa mentir.

Cláudio Abramo, Mino Carta, Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Clovis Rossi, Nirlando Beirão e suas crônicas políticas deleitavam este então jovem leitor. E aí vieram os comícios, passeatas, assembléias, greves, manifestações, protestos, atos públicos. E também alguns privados! Afinal, havia interessantes “companheiras” nesses movimentos...

Algumas dessas companheiras de “luta” me acompanharam por outros caminhos. Fiquei, namorei, casei e me separei algumas vezes, poucas muito poucas vezes. Mas sou um cara de sorte, sempre tive companheiras maravilhosas. Se alguma coisa deu errado, a “culpa” foi sempre minha.

Terceiro Ato - 2012

Hoje às vésperas de uma eleição que traz o PT e Paulo Maluf do mesmo lado, o Serra e o PSDB como  “salvação” para um cidade em cujo estado estão no poder há 20 anos e um manorusso como “novidade”, tento manter minhas convicções de que em política precisamos sempre nos posicionar, nem que seja para escolher o menos ruim.

E as greves? Sem questionar a justeza de suas reivindicações, parecem descaracterizadas. Das atuais, uma delas, por  exemplo, deixa aluno quatro meses sem aulas e professor em casa assistindo televisão, a outra tem uma adesão de menos de 10% e é considerada “forte”. Parece que esse  legítimo instrumento de pressão, para ser usado de forma criteriosa, democrática e participativa, virou um festivo período de férias remuneradas. 

Já no futebol transformaram o meu Palmeiras numa Portuguesa com grande torcida. Este ano depois de ganhar um título estamos “ladeira abaixo” rumo à segunda divisão! Mais do que minhas convicções, neste caso, eu procuro manter minhas esperanças de que isto não vá acontecer.

Minhas atuais “companheiras” de luta? Ah..  aí meus caros e pacientes leitores me desculpem mas esta crônica já está muito longa!!!!